Moments - 37º Capítulo: Always

 Depois que Anna saiu do quarto, fitei a porta, ainda perplexo. Eu salvei uma vida! Posso não ter servido, nesse quesito, para Julie, mas ajudei John. Não salvei a minha vida, meu amor, mas salvei a vida, o amor, de alguém. E eu sei a felicidade que Anna está sentindo, pois é a mesma de quando descobri que Julie aceitara a medula de Nathalie.

Quando voltei a mim, ouvi o quarto explodir em aplausos e gritos. Mas, o mais importante era quem estava à minha frente, me olhando atenta, cheia de ternura no olhar. Sem aparelhos; sem tubos de soro conectados à seus braços e/ou corpo. Seus braços estavam esticados, abertos, esperando apenas por um abraço meu.

- Você não tem ideia de como sou orgulhosa por suas atitudes – sussurrou Julie em meu ouvido assim que me abraçou. – Vindo atrás de mim e tentando me curar, você salvou a vida de muitas pessoas. Salvou John! E trouxe a minha medula compatível com você. Você foi minha força de vontade todos esses anos, meu motivo para lutar...

- Para continuar por aqui e me encher o saco por um bom tempo? – perguntei, lembrando as palavras que li em seu livro. Ela me soltou, assustada. – É, eu li no livro – contei, levemente corado.

- Para sempre te encher o saco, Payne – corrigiu ela, com um sorriso intensamente doce nos lábios. – Você é meu herói, Li. Junto com toda essa turma que você trouxe para me ver.

- Não trouxe – retrucou Harry. Obviamente todos prestavam atenção na conversa desde o início, pensei eu. Caso contrário, não seriam os garotos que conheço. – Ele nem tinha nos avisado. Vemos por conta própria – concluiu, fazendo uma careta de garotinho mimado.

- Ai que lindo esse bombonzinho – zombou Niall, apertando as bochechas de Harry enquanto imitava a voz de Nathalie, sem sucesso algum, devo acrescentar. – Sabiam que esse é o apelido de Nath pra ele?

- Ei! – disse Mariane, atraindo a atenção. Imaginei que, a essa altura, Julie já havia conhecido Mariane e Daisi, o que dispensava apresentações. – Você gosta de cupcake!

E eu acho que nem preciso de dizer a bagunça que se seguiu após esse comentário, não é? Tudo o que posso dizer é que abracei forte minha namorada enquanto ríamos de quantas coisas os casais à nossa frente tinham para “jogar na roda”.

Em uma semana, Julie, finalmente, recebeu alta. Mas o mais importante é que, nessa última semana, passamos todos juntos, no quarto de hospital, conversando e contando para Julie os acontecimentos das duas semanas em que ela ficou em coma.

Contamos a ela sobre o pedido de namoro de Niall, uma vez que ela já sabia da história dele com Mariane. Contamos que Louis pediu Eleanor em casamento, e como pediu. Zayn e Perrie nos surpreenderam dizendo que tinham algumas leves ideias para seu casamento, mas que este ainda demoraria um tempo. Nathalie conseguiu uma bolsa de estudos em uma faculdade de Londres que não me recordo o nome no momento. Mariane ainda estava estudando e queria terminar a faculdade por lá, mas tinha planos de fazer residência em Londres ou uma cidade perto, aproveitando que Niall lhe ajudaria a estudar.

Como era de se esperar, depois que Julie tivesse alta, cada casal viajaria para um lugar diferente. Harry e Nathalie iriam para Sheffield, já que Nathalie prometera ficar uns dias com a avó. Louis e Eleanor, assim como Niall e Mariane, iam com Zayn e Perrie na viagem que Zayn havia comentado anteriormente para fazermos todos juntos – antes de descobrirmos sobre Julie, claro. Andy e Daisi viajariam com os sr. e a sra. Samuels para uma outra cidade, já que eles mereciam um descanso. Julie e eu, bem, íamos para uma praia ou ilha. Algo assim.

- Não sei se podemos ir, Li – lamentou Julie quando lhe mostrei nossas passagens para as Ilhas Scilly, que ficam bem ao sul da Inglaterra. – Eu não tenho roupas – e então eu comecei a rir. Parecia aquele drama de garotas que tem o guarda roupa cheio e dizem que não tem o que vestir. Mas eu sabia que esse não era o drama de Julie. Ela passara os últimos seis anos enfurnada num quarto de hospital e realmente não tinha roupas, mas ainda assim era engraçado. – Não ria de mim, poxa. To falando sério!

- Eu sei, eu sei – disse, tentando parar de rir. – Vou pedir para as meninas irem com você no shopping assim que receber alta, está bem?

- Você não entende, não é? – retrucou ela, irritada. – Eu não tenho dinheiro pra isso. Meus pais mal conseguiam pagar o hospital e meu tratamento, que dirá guardarem dinheiro para uma eventual recuperação. Não tinha mais esperança para nós, Liam. Não temos nada.

- Deixa eu comprar pra você – pedi, agachando-me ao seu lado na cama. – Por favor. Eu quero que você viaje comigo e, se quero isso, se te peguei desprevenida, deixa eu tomar as providências. Por favor, Ju. Só dessa vez.

- Liam, eu não quero saber do seu dinheiro. Já falei isso. Não quero ser o tipo de namorada que depende de você pra tudo.

- Mas você não tá dependendo de mim, coloca isso na sua cabeça, por favor. É um presente, entendeu? Eu fiquei tempo demais longe de você e quero recompensar. Vou recompensar com as roupas como presentes atrasados e todo o carinho do mundo nesses dois meses. Por favor, deixa eu te fazer feliz e me alegrar fazendo isso – olhei-a profundamente, enquanto ela revirava os olhos pela quinta vez.

- Só dessa vez Liam – disse ela, baixinho. – E só porque você quer viajar. Mas eu não quero mais isso, ouviu bem?

- Sim, sim – gritei, abraçando-a com força. – Ouvi, pequena. Eu ouvi.

Como prometido, Perrie, Eleanor, Mariane e Nathalie acompanharam Julie “às compras” assim que ela recebeu alta. Nathalie lhe emprestou uma roupa para irem até o local. Entreguei meu cartão para Julie que, a contragosto total, pegou. Quer dizer, Perrie o pegou de minhas mãos, já que o orgulho de Julie ainda era grande em aceitar o presente.

Elas passaram o dia inteiro no shopping. Não estou brincando. O dia inteiro mesmo! Enquanto isso, eu e os meninos passamos o dia inteiro não fazendo nada além de ficarmos no salão de jogos do hotel. São nessas horas que sentimos mais falta das meninas.

- Será que ainda vai demorar? – perguntou Niall, estirado na cama do meu quarto do hotel. Estávamos todos reunidos por lá. – Por que as mulheres demoram tanto quando vão pro shopping?

- Porque elas pegam várias peças diferentes e provam uma a uma. Se ficarem indecisas, provam de novo. É a lei da vida, meu caro – explicou Louis, aparentemente o mais paciente de nós.

- Já fez muita compra com a Els, não foi? – perguntei, rindo.

- Mais do que eu gostaria.

- E se nós fossemos fazer compras? – sugeriu Harry, fazendo-nos olhar pra ele com deboche.

- Me diz que você tá brincando – pediu Zayn, agoniado com a ideia.

- Não tava, mas ok.

- Harry, você é hilário! – disse Louis, dando tapinhas no ombro dele enquanto ríamos.

Depois de mais algumas horas, resolvemos pedir pizza, já que a fome era grande. Alguns instantes depois, as meninas abriram a porta do quarto com entusiasmo, com apenas algumas sacolas nas mãos. Umas duas sacolas para cada, eu diria. E com as pizzas e refrigerantes que pedimos.

- Sério que vocês demoraram o dia inteiro pra voltarem com, sei lá, dez sacolas? – perguntou Zayn, claramente irritado.

- Dez sacolas, não, amor. Essas são nossas. As da Ju estão todas lá embaixo, esperando vocês irem buscar enquanto arrumamos as coisas pras pizzas – respondeu Perrie, sorrindo. Todos ficamos sem reação, nos olhando um tanto abobalhados um para o outro. Por fim, acabamos por concordar, mas eu não via Julie em lugar algum.

- Cadê a Ju? – perguntei, um tanto apreensivo.

- E a Nath? – acrescentou Niall. Reparei que ela também não se encontrava.

- Alguém tinha que ficar cuidando das sacolas – respondeu Mari, corada. – Julie quis ficar e a Nath ficou de companhia.

Depois de carregar sabe lá Deus quantas sacolas pro meu quarto e comermos as pizzas, cada um foi para seu respectivo quarto, ficando apenas Julie comigo. Ela estava mais quieta que o normal e ainda mais linda.

- Quer um quarto só pra você? – perguntei, me sentando ao seu lado na cama. – Posso pedir um, não tem problema.

- Para com isso – disse ela, rindo. – Nós vamos ficar dois meses sozinhos numa ilha. Por que eu não iria querer dividir um quarto de hotel, uma noite, com você?

- Então o que é que se passa nessa cabecinha?

- É estranho, Liam.

- O quê? – perguntei, baixinho, puxando sua mão para mim, segurando-a.

- Dois meses atrás eu me contentava em te ver bem e feliz, verdadeiramente feliz, pela tela da tv do meu quarto, lá no hospital. Eu me contentava em ler “A Culpa é das Estrelas” sempre que me sentia pra baixo, porque, bem, eu já li esse livro cinco vezes. Me contentava em saber que, mesmo que eu lesse cem vezes, a Hazel teria o mesmo final, sempre. Me contentava em viver o resto da minha vida com minha mãe todos os dias ao meu lado, como a Hazel, e em ver o meu pai quando dava. Aceitei que essa era a minha vida e que não havia solução pra mim, que, um dia, eu morreria e deixaria meus pais, e eles nem saberiam onde o Andy estavam. Aceitava estar ao lado deles enquanto eles não achavam o Andy. Mas olha só pra mim agora – ela parou, dando uma leve risada. Mesmo ela estando de cabeça baixa, notei que seus olhos estavam cheios d'água e que algumas lágrimas escorriam por suas bochechas. Ainda assim senti que não deveria secá-las. – Meus pais tem o Andy novamente, eu tenho minha medula. Não tenho mais leucemia, espero não deixar meus pais tão cedo. Não tenho mais que morar num quarto de hospital, de modo que meus pais vão economizar um bom dinheiro. Tenho um final diferente do livro, ao contrário do que eu imaginava. Agora eu tenho uma vida diferente, em um mundo completamente diferente.

- E seu namorado? É diferente? – perguntei, vendo-a sorrir enquanto mais lágrimas corriam por seu rosto.

- Claro que é – respondeu ela. – Eu não tinha namorado.

- Não tinha, é? – provoquei-a, enfim secando suas lágrimas.

- Não quando eu tava no hospital – insistiu ela.

- E antes disso?

- Eu tinha, mas ele mudou – ela pausou, me fazendo olhá-la atento, esperando ouvir várias coisas sobre como eu era e como sou agora. Sinceramente, bateu um pouquinho de desespero. E se eu tivesse mudado tanto assim? Ela levantou a cabeça, me olhando com a mesma ternura de sempre. – Agora ele é mais bonito, é mais velho, tem um bom gosto melhor para roupas, mora em Londres, viaja pelo mundo, além de ser rico e famoso.

- Isso te incomoda?

- Só a parte de viajar pelo mundo – ela riu. – Mas o que me deixa feliz é que ele continua sendo o Li. Ou o Payne, dependendo da ocasião.

- E sempre o namorado – bradei, fazendo-a rir.

- E sempre o namorado – concordou ela, deixando-se aconchegar em meus braços até dormir.

Hey little princess. Sentiram minha falta? Estão com muita vontade de me matar pela demora? Espero que não.

Bom, espero que gostem desse capítulo de Moments, porque eu fiz com muito carinho pensando em vocês. Tentei fazer um capítulo grande pra compensar a demora, mas a outra maneira de compensar é postar o próximo capítulo logo, certo? Então espero uns 20 comentários, já que ganhei mais de 30 no último ♥

Obrigada minhas lindas, vocês são as melhores!

A evolução dos cabelos ♥